terça-feira, 12 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 9



Ainda esperei vinte minutos lá embaixo, mas nem achei ruim quando ele apareceu. Ele também não fazia parte do casting da Calvin Klein, mas era um gatinho. Chegou muito charmoso num sobretudo preto com um cachecol azul marinho. O cabelo castanho repartido e colocado de lado. Mas o mais bonito foi o sorriso quando me viu. Meu placar já estourou.

Os primeiros cumprimentos são meio desajeitados. Que bom, ele também está sem graça. Vamos andando na direção oposta à da estação de metrô, ele me diz que sabe onde é o bistrô. Ele podia ser um maluco, podia estar mal intencionado, mas eu sinto segurança na minha intuição de que está tudo bem. Ele não tem só cara, tem gestos e papo de bom moço.

A noite está muito fria. Tem pouca gente nas ruas. Já passa das 20h e só estão nas calçadas alguns pedestres apressados, uma senhorinha com seu cachorro, eu e Lucas. Sinto seu perfume, suave, gostoso, masculino. Pergunto-me se ele também comprou no free shop no embarque para a viagem, assim como comprei o meu.

Pergunto pelas meninas. Como é viajar com duas meninas?

- Na verdade, outro primo estava nos acompanhando. Ele retornou mais cedo para o Brasil, precisou resolver problemas urgentes. Algo em relação à casa dele. Parece que houve um problema elétrico... – ele está nervoso. Tenho certeza. – Só estamos em três, desde que chegamos a Paris. As meninas são ótimas, são apenas muito.... meninas.

Abri meu melhor sorriso.

- Às vezes me separo e procuro as lojas que me interessam sozinho. Mas na maioria das vezes, acompanho escolha de maquiagem, roupas e caderninhos enfeitados.

Agora que ele tocou no assunto, percebi que não me interessei por compras em nenhum momento. Esqueci que estou na melhor cidade do mundo para compras de beleza. Uau. Eu realmente não me reconheço. 

Pergunto sobre o seu trabalho, e ele me diz que não é nada empolgante (como o meu...), que é um lugar tranquilo, com bons colegas e que ele já conhece há oito anos (como o meu!), que ao contrário do que todos pensam, não é feito de reuniões cheias de criatividade, todos os dias.

Volto a sorrir, o papo dele é muito gostoso. Ele é engraçado. Meio teatral, até. Usa muito as mãos, se agita bastante para falar. Gosto disso. Mostra interesse em empolgar, em conquistar a atenção de quem ouve. No caso, eu.

Ele pergunta pelos meus supostos parentes. Sinto vontade de me livrar dessa mentira. Mas não tenho coragem. Digo que estão todos muito cansados, que não gostam de sair no frio da noite e foram dormir cedo. 

Passamos por ruas mal iluminadas e não posso deixar de notar como a cidade é sombria neste pedaço. Aqui, a zona é residencial, não tem o fervor dos turistas, nem a agitação das áreas mais movimentadas pelos parisienses. É vazio e silencioso. É estranho conhecer uma Paris assim.

Chegamos rápido ao bistrô e as meninas já começaram a tomar vinho. Amanda me parece mais alegre, diferente da menina quieta de mais cedo. As duas estão agitadíssimas, porque encontraram uma dica de um clube de jazz, num blog de um turista brasileiro e querem ir para lá naquele instante. Ué, vamos. Não tenho nada melhor para fazer. Nada, mesmo.

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