quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 5



Despedimo-nos com um aperto de mão e eu peguei o caminho do palácio, junto com o grupo de turistas. Aproveitei para abocanhar meu café da manhã que a esta altura já está gelado. Venta muito e o dia parece mil vezes mais frio do que quando saí do hotel. Que falta que o gorro me faz. Depois de sacudir as milhares de migalhas que se prenderam ao meu cabelo, passei pelos portões do palácio.


É impossível não viajar no tempo, por aqui. A imensidão do pátio, os grandes portões, a grandiosidade da construção. Consigo imaginar as carruagens, os soldados, os nobres, os empregados, as intrigas, os romances, tudo passando na minha cabeça como uma novela de época. 


Uma das vantagens  de viajar no inverno é a ausência de filas. Todos os meus amigos sempre falaram da dificuldade de comprar ingressos para as principais atrações por causa das longas filas. Explicaram-me como comprar tudo na internet, mas minha intuição não me traiu: estava tudo livre, não há tantos turistas nessa época. Escapei de mais esse problema, o que eu faria com os ingressos de Jhonny? Hunf. Quantas vezes imaginei essa visita ao lado dele. Eu só falava nisso, já no avião, enquanto ele se interessava por qualquer outra coisa, mais que por minha conversa. Na verdade, eu já conseguia visualizar alguns sinais. No avião, ele parecia distante. Ele assistia filmes, se preocupava com a comida, conversava com um grupo de suecos que se sentou na fileira ao lado, mas pouquíssimo comigo. Já havia algo errado, eu não vira.


Dancei junto com os nobres no salão dos espelhos, aprendi geografia com os príncipes na sala de estudos, relaxei com Maria Antonieta na cama minúscula, apreciei cada tom de mármore incorporado às paredes. 


Já nos jardins, acolhi de novo o frio. Deixei ele me abraçar e alisar os meus cabelos. Percorri os caminhos retos entre os canteiros de cores sóbrias, apagadas pelo frio. Parei ao lado da grande fonte e fiquei de frente para o enorme canal. Permiti-me sentir a dormência nos lábios e no nariz, enquanto pedia para que essa letargia chegasse até meu coração. 


Aqui e ali eu ouvia os passos de alguns turistas sobre as pedrinhas pelo chão. Ouvia algumas conversas em línguas diferentes. Ouvia o vento passeando entre os galhos das árvores, quase sem folhas. E quase podia ouvir meu peito pesado, quando pensava na imensidão daquela propriedade, tão grande quanto a da minha solidão.

Pensei na minha casa no Brasil, em todas as coisas dele no meu apartamento. Pensei nos amigos em comum. Lembrei dos planos de tornar as nossas vidas uma só. Eu podia ter ficado na França, podia estar agora em Versailles, podia estar sem ele, mas não estava sem a lembrança dele. Essa estava ao meu lado, o tempo todo, sussurrando no meu ouvido o quanto era doído.

Nenhum comentário:

Postar um comentário