quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 17



Chego ao hotel, mais leve, meio boba, mesmo. A sensação piora com o cansaço, andei muito o dia inteiro, preciso de um banho, de comida e de cama.

Minha calma passa quando o recepcionista vem correndo ao meu encontro, afobado, falando rápido e gesticulando. Meu susto de achar que podia ser algum recado do Brasil passou à medida que eu consegui compreender algumas palavras. Eu achei que tinha conseguido entender, quando ele me estendeu um pedaço de papel manuscrito e minha desconfiança se confirmou quando li “Tulio” assinado embaixo.

Sorri, agradeci e fui para o elevador acompanhada do olhar sorridente dele. Não que ele estivesse feliz por mim, era por ele mesmo. Desde o dia em que cheguei que percebi que eu e aquele recepcionista nos atraíamos pelo mesmo sexo. Tulio deve ter causado frisson quando esteve aqui para entregar o bilhete. Enquanto ele gesticulava freneticamente eu entendi “rapaz”, “alto”, “recado”, “simpático”, “para você”. Não há fluência que se mantenha diante daquela euforia.

Ainda no elevador, eu abro o bilhete rápido e leio uma, duas, três vezes. Tulio diz que adorou nossa conversa no trem (eu também, eu também!) e pergunta se quero sair com ele amanhã, para ele me mostrar um pouco de Paris. Explodo! Entro correndo no quarto e me jogo na cama, como uma menina de quinze anos. Reparo que não paro de sorrir desde que entrei. Imagine se o recepcionista sabe o que está escrito ali! Ah. A quem eu quero enganar? Claro que ele leu.

Vou inovar mais uma vez. Vou tomar cuidado, mas vou me permitir. Vou conhecer melhor Tulio e a cidade e ter mais histórias para contar. Não sei se vamos ficar juntos (por favor, por favor!) mas vai valer a pena de qualquer jeito, só por poder aproveitar.

Bom, preciso responder, porque ele pediu que eu deixasse a resposta na recepção do hotel, que ele passaria para pegar quando saísse da boulangerie. Desço correndo e peço ao meu novo cúmplice (que me já me esperava lá embaixo) um papel e uma caneta e juntos redigimos a resposta. Ele me ajuda a falar o francês coloquial e não o da escola do Brasil. Digo que adoraria e confirmo o horário que ele propôs. Meu novo amigo recebe satisfeito e diz para eu não me preocupar. Ele também ganha com a minha resposta, afinal, Tulio vai voltar ali mais tarde.

Mudo de ideia e adio o banho. Preciso comer e voltar ao hotel antes dele passar. Não quero parecer desesperada. Escolho ir no sentido posto ao da boulangerie e encontro um café com um ótimo chocolate quente e com a melhor torta de maçã já feita no mundo. Volto correndo para o hotel e quase não consigo pegar no sono apesar de todo o cansaço. Amanhã minha amiga vai sair de novo acompanhada.

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