segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 8



Meu hotel fica próximo à estação de Cambronne, enquanto o deles fica próximo à Estação Rue du Bac, mais ao norte, em relação à minha parada. Desço me despedindo de grandes amigos, com direito a abraços e tudo. Enquanto desço as escadas da estação, tento me lembrar do contexto em que aceitei que Lucas viesse me pegar no hotel. Para quê? As meninas seguem na frente, enquanto ele vem me buscar. Precisa fazer assim? Não precisa, não, mas eu quero. 

Passei na frente da boulangerie e estiquei o pescoço, Tulio não estava lá. Que lembrança gostosa daqueles olhos azuis. Nesse caso, eu nem me importaria de pôr cartas na mesa. 

Deitei para tirar um cochilo, mas não consegui pregar os olhos por nenhum minuto. Minha cabeça fervilhava com as cenas dos últimos capítulos da minha vida. Como tudo tinha andado tão depressa? Eu sempre fui tão medrosa, sempre esperei tanto para dar mais um passo. De repente, tenho um compromisso com novos amigos na noite de Paris. Meu placar não para de subir.

Resolvi me arrumar mais cedo, assim, eu posso testar todas as roupas possíveis. Também preciso cuidar do cabelo, o secador do hotel não dá conta do volume do meu cabelo e preciso acompanhar com rigidez científica a evolução do meu penteado à medida que os fios secam, colocando cada mecha no lugar.

O celular apita. Pai. Respondo: Tudo bem, adorei Versailles. Hoje, vamos curtir a noite, depois mando notícias. Beijos. Não tô mentindo. Nós vamos sair mesmo. Ele só não sabe de “nós” estou falando.

Provo quatro opções e decido pelo óbvio: um conjunto preto. Uma blusa com decote razoável, uma saia justa e meias pretas, afinal, só aqui eu consigo usar um visual assim. A temperatura média da minha cidade não me permite abusar nem de mangas longas. Capricho na maquiagem e gosto muito do visual final. Mas eu gosto mais ainda da minha expectativa.

Doeu muito a saída de Jhonny. Muito. Mas havia algo que não se encaixava no meu luto. Tinha uma pecinha solta que eu não queria reparar nos primeiros dias. O fato de ter toda a minha programação de viagem e de vida revirada do avesso sem prévio aviso, me deixava cega. Mas assim que eu consegui organizar meus pensamentos, que me permiti levantar da cama e continuar em frente, consegui enxergar melhor.

Era muito doído, detestava admitir que estava sozinha, odiava ainda mais pensar que havia sido deixada sozinha. Mas precisava admitir, não era tão horrível ficar sem ele.

Enquanto conversava com o trio socorrista, percebi que jamais teria um programa como aquele com Jhonny. Eu havia programado toda a viagem, ele havia aceitado ir depois de muita insistência. Ele não gostava de novidades, detestava deixar de ir ao seu restaurante favorito ou de assistir aos seus documentários no sofá de casa. Essa viagem tinha sido a primeira coisa que ele aceitava fazer por mim. E ele desistiu antes mesmo de começar.

Ele também não me fazia rir, como Lucas fez, nem era gentil como Tulio foi ao me acompanhar. Ele era ele e nada mais. Eu aceitava. Foi bom variar e estar ao lado de pessoas que se importavam comigo e procuravam me agradar. A tarde foi assim e foi boa.
Lembrei das suas birras e das discussões sobre coisas bestas. Lembrei que ele sempre me dobrava, quando chegava em casa com meu bolo favorito e me beijava rápido para eu não ter tempo de continuar discutindo. Lembrei do beijo preciso, correto, perfeito para mim. Lembrei do abraço e do seu cheiro. Estremeci. O quarto de repente ficou frio. Podia não ser perfeito, mas era meu. 

Acho melhor descer. Minha nova amiga quer sair e hoje ela tem acompanhante.

Um comentário:

  1. Ai... e Paris segue me salvando de outro dia chato no escritório.

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