terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 15



Encaixei o gorro na minha cabeça, apertei com força o forro dos bolsos do meu casaco e endureci meus passos. O frio me rondava de novo, eu podia sentir enquanto ele tentava se esgueirar pelo meu rosto e pelas peças mais finas das roupas. Mas eu mantive o passo firme. Deixei o filme passar na minha cabeça. Não olhei ao redor, não procurei a Paris com charme noturno. Eu tinha um destino e eu queria chegar lá.

O caminho pelo Quais François Mitterrand, próximo ao rio, estava muito frio. Tinha poucos corajosos andando por ali e eu não reparei em nenhum deles. As banquinhas de souvenirs localizadas ali já estavam fechando. 

Eu planejei, eu trabalhei eu batalhei por tudo até ali. Eu sempre soube o que eu queria e fui atrás. Podia não ter o emprego dos sonhos, podia não morar na casa escolhida para me aposentar, mas seguia muito bem o caminho traçado por mim mesma. Media, calculava, analisava, e só então agia. Eu sempre fui admirada pela determinação, pelo compromisso e pelas conquistas. De repente, tudo isso parecia vazio. Sem nenhum sentido. Eu nunca planejara estar ali daquele jeito e esse já era o terceiro dia em que tinha que lidar com essa situação. Como sempre, eu conseguia resolver os problemas, mas eu me sentia muito confusa! As lembranças iam e viam e naquela hora, eu conseguia perceber que passava o tempo todo tentando encontrar o porquê. O ponto onde eu tinha errado. Mas eu não tinha errado. Então... por que eu estava ali? Não faz sentido.

Eu conseguia enxergar, àquela altura, que fiquei em Paris, porque no fundo, lá no fundo, eu acreditava que ele podia voltar. Que ele podia entrar naquele quarto e restaurar a ordem na minha vida. Que ele podia voltar e dizer que tudo aquilo em que eu sempre acreditei existia e era como eu pensava. 

Entrei na Pont Neuf feito um foguete. Tirando meu cabelo monocromático e a total falta de maquiagem no meu rosto àquela altura, eu bem que podia passar por uma legítima parisiense.

As coisas começavam a ficar mais claras, e era muito duro entender, mas aparentemente, eu não controlava uma porção de coisas. Mais do que isso: eu não controlava minha própria vida. Eu podia querer, eu podia até batalhar duro por algo e ainda assim, aquilo não acontecer ou acontecer de uma forma completamente diferente do que eu desejei ou esperei. Ok. Eu não sou nenhuma criança. Sei que um homem pode escolher não ficar comigo, eu já tomei um fora antes. Mas durante uma viagem romântica em Paris, do meu namorado de dois anos, quase meu noivo, sem sequer suspeitar de que ele podia querer algo assim, derrubava por terra todas as minhas concepções sobre a minha própria vida e a minha atitude diante dela.

Levantei a cabeça para contemplar o paredão luminoso. Ela estava lá. Imponente, majestosa, testemunha da História de Paris e do mundo por séculos. Uma entidade, um prédio personificado, meu refúgio. Avancei devagar, quase reverente. A fachada tinha mais elementos do que meus olhos eram capazes de captar. As torres eram mais altas do que eu podia imaginar. Fui dando passos lentos em direção às portas, fingindo naturalidade para mim mesma, enquanto o que eu queria era cair de joelhos na calçada mesmo.

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