segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Alice na Paris das cinco noites - Parte 13



O jardim está logo à frente e as grades já me deixam visualizar o que me espera. As árvores estão concentradas ao redor, no centro há um enorme descampado, com um espelho d’agua e algumas pessoas posicionadas em volta. Há gente lendo, conversando, comendo, dormindo. Sinto-me em outra dimensão. É muito diferente de tudo que conheço no Brasil, mas ao mesmo tempo estranhamente familiar. Não sei se de sonhos, se de outras vidas, se dos livros de Hisstória, mas eu conheço tudo aquilo ali, apesar de nunca ter visto antes.

As árvores são altas e concentram galhos no alto, o que deixa um bosque de troncos esguios. Há estátuas sensuais ornando os postes aqui e acolá. Há flores lindas em meio à vegetação rasteira. Vou caminhando pelas vias pavimentadas e encontro uma fonte, tão grande quanto antiga. As árvores fazem sobra ao redor e quase consigo ouvir o chiado das conversas ao redor dela, misturado ao arrastar das saias rodadas das damas que passeiam por ali.

O prédio do Senado se descortina, lindo e imponente, completando a paisagem majestosa.
Encontro um banco que me dá uma visão privilegiada de uma boa área do jardim. 

Coloquei meus fones de ouvido e pus a tocar a minha seleção de músicas de Edith Piaf escolhida para essa viagem. Eu a fiz para dividir com ele, mas, pensando bem, era até melhor apreciar sozinha. Ele nunca soube reconhecer o encanto da interpretação de Piaf. Seu canto é sofrido, o que me identifica imediatamente com aquele coração marcado. A brisa acaricia, o sol quente me abraça e Paris me consola.

Depois de um bom tempo de meditação e algumas lindas fotos de terceiros, minha barriga convidou a apreciar mais uma iguaria da cidade. Escolhi uma mesa perto da janela do pequeno bistrô e enquanto comia meu prato, aproveitava para acompanhar o vai e vem dos parisienses, sempre muito apressados e sempre muito bonitos. Acho incrível como as pessoas cuidam da aparência. Homens e mulheres saídos de comerciais de beleza. 

De repente me senti um pouco triste... com meu cabelo de uma única cor, sem repiques e minhas roupas de inverno sóbrias. Em total contraste com a meia-calça roxa da moça ali na calçada que é e-xa-ta-men-te do mesmo tom do suéter que o buldogue dela veste. Acho que vou tomar mais uma tacinha de vinho.

Saio relaxada e leve com o álcool circulando no sangue. Preciso tomar cuidado com esse consumo de vinho. Mas, pensando bem, faltam apenas mais três dias de abuso de Bordeaux... acho que eu sobrevivo.

Esse estado alterado me parece perfeito para passear pelo Louvre. Assim, posso apreciar as obras com mais leveza e terei mais paciência com a multidão que vou encontrar por lá. Ponho-me a caminho.

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