terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Alice na Paris das cinco noites - Parte 29



Foi difícil convencer Jhonny a ir embora. Ele ainda argumentou e tentou me provar que eu estava sendo inflexível. Chegou um momento em que troquei um olhar cúmplice com meu amigo da recepção, dei as costas e me dirigi ao elevador. Como fariam para colocar Jhonny para fora, não me interessava. Agora, eu era como os parisienses:, ele não era mais problema meu.

Subi para o quarto, liguei a TV. Tirei o vestido, abri o chuveiro. Saí do banho, coloquei meu pijama, tomei uma taça de vinho e me deitei. Fiz tudo no automático. Acordei uma hora depois, e então me permiti pensar sobre o assunto. Foram dias muito especiais. A dor intensa dos primeiros dias deu lugar a um sentimento novo, que eu não conhecia: a curiosidade. A vontade de viver coisas novas. Pude perceber que há um mundo novo e maravilhoso fora das relações e das situações que pensei para mim. Permitir-se descobrir e arriscar pode trazer frutos maravilhosos. Ficar aqui sozinha foi uma medida bem radical para mim. Mas situações extremas, pedem medidas extremas e eu não me arrependi.

O fato de Jhonny ter ido embora de Paris com uma estranha foi um golpe muito duro. Sinto um frio no peito quando penso que ele foi capaz disso. Mas também preciso reconhecer que essa relação não tinha mais para onde seguir. Eu preciso de carinho, respeito e companhia de uma forma que Jhonny não pode me oferecer. Isso me deixava frustrada. E a ele também. Hoje eu não posso, mas já consigo prever que vou perdoá-lo mais adiante. Ele fez uma besteira, das grandes. Mas antes disso, nós estávamos fazendo uma grande besteira tentando ficar juntos.

A patrulha da cidade trabalha 24h por dia. Acho bom me arrumar e sair. A cidade chama. De novo.

Recebo o vento frio com a cabeça erguida para o céu, os olhos fechados, inspirando fundo. Colocar o corpo para fora da porta do hotel virou um ritual para despertar. Vou sentir falta disso.

Decido seguir o rio e apreciar suas margens. Preciso assentar todas as novas idéias que me surgiram na última hora, não posso deixar que elas me escapem. A linha que me separa do agora para uma crise de choro e consumo compulsivo de doces é muito fina, eu sei disso. 

Hoje a cidade está particularmente linda. Ela se despede de mim e eu dela. É nossa última noite juntas neste primeiro encontro. Paris costuma ser inesquecível para quem a vê pela primeira vez. Para mim, não será diferente. Será mais especial.

Debruço-me no peitoral erguido na calçada, acompanho os barcos passando lotados de turistas. Escuto o barulho das águas, a conversa animada de duas meninas e o latidos dos cachorros que se encontraram em seus passeios noturnos. Parece estranho, mas a cidade também é feita de coisas banais, cotidianas.

Minha bolsa vibra insistentemente. Nas primeiras vezes, conferi o visor do celular para ver que se tratava de Jhonny. Agora, nem olho mais. Caminho olhando o horizonte, sem pressa. Afinal, não há ninguém me esperando voltar para o hotel e isso continua sendo muito bom.

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