Desço pelo funicular e procuro uma estação de metrô para
voltar ao hotel. Preciso de um banho e de um sapato mais baixo para continuar
passeando. Não quero perder um minuto do que me resta aqui na cidade.
Não tenho nenhuma pressa e não corro para pegar o trem que
está partindo quando chego na estação. Sinto o celular vibrar na bolsa e
imagino meu pai respondendo feliz à minha mensagem, mas vejo que é uma ligação
perdida e o texto da mensagem não deixa dúvidas, foi Jhonny quem me ligou. Não
me interessa porque o celular não tocou, ou porque não senti a vibração da
chamada, não importa. Eu não quero falar com ele, não vejo motivo para isso.
Fico ansiosa, mas é de curiosidade. O que levaria ele a me
ligar naquele momento? Será que não acreditava que eu tivesse ficado de
verdade? Quer saber? Eu não tenho como descobrir. Quando chegar ao Brasil,
devemos nos encontrar e aí teremos essa conversa final e esclareceremos todas
as dúvidas.
Chego cansada à porta do hotel e para minha surpresa meu
amigo recepcionista não vem correndo saber da minha noite, mas aponta irritado
para o sofá da recepção onde Jhonny descabelado, com a barba por fazer,
agarrado à sua mala, me espera sentado.
Não dá para descrever a sua cara ao me ver. Eu não poderia
ter simulado, ensaiado ou preparado de nenhuma forma um reencontro melhor do
que este. Eu chego com cara de ontem, com um vestido novo e sexy, em cima de
saltos altos, carregando compras, no início da tarde em Paris. Isso é só o que
ele pode ver, imagina se ele sabe do que ele não pode ver.
- O que você está fazendo aqui? – Não preciso forçar a raiva.
Eu realmente não estou feliz em vê-lo.
- Eu tentei subir, mas ele não deixou – apontou para o meu
amigo que em dois dias se mostrou mais leal do que muita gente que convive
comigo no Brasil.
- Claro que você não podia subir, o quarto é meu!
- Calma, eu só queria conversar com você.
- Você voltou do Brasil para conversar comigo?
- Não, eu não fui para o Brasil.
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