Já no trem Paris-Versailles,
depois do embarque na plataforma certa (Rive
Gauche, by the way), eu cansei de inventar mentiras e comecei a perguntar
sobre a vida dele. Ele era francês? Mesmo com aquele sotaque?
Não, era um italiano lindo.
Passado o choque inicial, comecei a praguejar contra o meu desleixo da manhã
(perfeitamente justificável, é claro; mas que nesse momento era totalmente
dispensável) que me deixou sair com aquela cara de
mendiga-drogada-que-dormiu-na-calçada e não da turista em Paris que eu devia
ser.
Ele era alto, esguio e tinha essa
exótica combinação dos cabelos negros com os olhos azuis. Ok, ele não era
nenhum modelo da Calvin Klein, mas tinha aquela aura bonita, de gente de bem.
Sorriso franco, educação ao falar e ao agir e aquele sotaque lindo. Ele era um
tipão.
Fazia o quê em Paris? Buscava sua
vocação: trabalhar com comida. O pai francês lhe ensinou a amar a culinária local
e ele estava ali tentando entrar numa boa instituição de ensino na área.
- Enquanto isso não acontece, eu
faço bolos e pães para a boulangerie.
Imaginei se aquele bolo de
amêndoas tinha sido feito por ele e como estava perfeito, assim como seu
sorriso. Já podia me imaginar saboreando mais um pedaço à noite, pensando no
meu novo amigo.
E morava com quem? Sozinho. Hum.
Já estava lá há quanto tempo? Dois anos. Muito interessante. Ia todos os anos à
Italia, visitar a família. Que fino. Ao lado dos seus relatos minha vida parecia
um completo tédio. Nasci e sempre morei no Brasil, terminei a faculdade há dez
anos e enfiei-me num escritório onde me encontrava trabalhando até hoje. Quer
dizer, hoje não, hoje estava a caminho de um dos palácios mais glamorosos do mundo
conversando com um italiano habitante de Paris, gato e padeiro de mão cheia.
Ponto para mim.
Conversamos animadamente até a
estação do palácio. Ele me contou uma série de situações engraçadas que já
aconteceram na pequena padaria e como foi difícil acostumar-se ao dia a dia da
cidade, tão diferente da pequena propriedade onde sua família mora na Itália.
Alternamos o francês e o inglês para nos entendermos melhor, enquanto caimos na
risada a cada escorregada no português ou no italiano. A viagem passou num
minuto, nem parecia ter saído de Paris.
Meu Deus, eu estou AMANDO essa novela...
ResponderExcluir