O metrô de Paris é um dos mais antigos do mundo e alguns
vagões estão lá para te lembrar disso. Não acho ruim, acho pitoresco e me ponho
a observar de novo o dia-a-dia ao meu redor.
Não paro de me perguntar como seria morar ali. Será que esse friozinho
me pareceria tão gostoso se eu tivesse que sair da cama de manhã cedo para
trabalhar ou para estudar? Será que esses músicos que se apresentam nos vagões
e tocam insistentemente ao seu lado, seriam tão interessantes se eu tivesse que
ouvi-los todos os dias?
Desço na estação interna do Louvre e não paro de pensar no
que a engenhosidade humana é capaz de fazer. A estação é integrada ao museu, no
seu sentido mais literal, desembarco e caminho um pouco até alcançar a entrada.
Nesse caminho passo por lojas e por um corredor lindo, com teto muito alto, que
me faz esquecer que estou abaixo de um dos castelos mais antigos do mundo.
Consigo me desviar de alguns grupos de japoneses afoitos e me
perder nos corredores do palácio. Vejo Da Vinci, múmias, estátuas gregas, o
Código de Hamurabi, crianças tendo aulas de História de frente para a História,
vejo estudantes de artes desenhando as formas lindas das artes da antiguidade. Vejo-me perdida num mundo mágico de História e
beleza.
Nem vi o tempo passar e depois de comer um lanche no café no
mezanino do museu, olho para o relógio e percebo que já anoitece. O ar frio da
noite me açoita na saída do museu. É como um tapa de realidade. O desconforto
da sensação térmica me acorda. Os rostos passam bem rápido na minha frente:
Jhonny dizendo adeus; Lucas divertido e escorregadio; Tulio, lindo e
inacessível e eu descabelada, cansada e chorosa.
A vida fora dos corredores do palácio que um dia foi o Louvre
pode ser bem doída e eu estava prestes a voltar para o meu quarto de hotel
acompanhada apenas dos doces que compraria no caminho. Foi um dia bom, eu havia
conseguido me distrair, passear pela cidade e conhecer muito do que me encantava,
mas estava indo ao encontro da minha realidade atual: um quarto vazio, com um
oceano de distância de todos os que eu amo. E daquele que não me ama, também.
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