O jardim está logo à frente e as grades já me deixam
visualizar o que me espera. As árvores estão concentradas ao redor, no centro
há um enorme descampado, com um espelho d’agua e algumas pessoas posicionadas
em volta. Há gente lendo, conversando, comendo, dormindo. Sinto-me em outra
dimensão. É muito diferente de tudo que conheço no Brasil, mas ao mesmo tempo
estranhamente familiar. Não sei se de sonhos, se de outras vidas, se dos livros
de Hisstória, mas eu conheço tudo aquilo ali, apesar de nunca ter visto antes.
As árvores são altas e concentram galhos no alto, o que deixa
um bosque de troncos esguios. Há estátuas sensuais ornando os postes aqui e
acolá. Há flores lindas em meio à vegetação rasteira. Vou caminhando pelas vias
pavimentadas e encontro uma fonte, tão grande quanto antiga. As árvores fazem
sobra ao redor e quase consigo ouvir o chiado das conversas ao redor dela,
misturado ao arrastar das saias rodadas das damas que passeiam por ali.
O prédio do Senado se descortina, lindo e imponente,
completando a paisagem majestosa.
Encontro um banco que me dá uma visão privilegiada de uma boa
área do jardim.
Coloquei meus fones de ouvido e pus a tocar a minha seleção
de músicas de Edith Piaf escolhida para essa viagem. Eu a fiz para dividir com
ele, mas, pensando bem, era até melhor apreciar sozinha. Ele nunca soube
reconhecer o encanto da interpretação de Piaf. Seu canto é sofrido, o que me
identifica imediatamente com aquele coração marcado. A brisa acaricia, o sol
quente me abraça e Paris me consola.
Depois de um bom tempo de meditação e algumas lindas fotos de
terceiros, minha barriga convidou a apreciar mais uma iguaria da cidade.
Escolhi uma mesa perto da janela do pequeno bistrô e enquanto comia meu prato,
aproveitava para acompanhar o vai e vem dos parisienses, sempre muito
apressados e sempre muito bonitos. Acho incrível como as pessoas cuidam da aparência.
Homens e mulheres saídos de comerciais de beleza.
De repente me senti um pouco triste... com meu cabelo de uma
única cor, sem repiques e minhas roupas de inverno sóbrias. Em total contraste
com a meia-calça roxa da moça ali na calçada que é e-xa-ta-men-te do mesmo tom
do suéter que o buldogue dela veste. Acho que vou tomar mais uma tacinha de
vinho.
Saio relaxada e leve com o álcool circulando no sangue.
Preciso tomar cuidado com esse consumo de vinho. Mas, pensando bem, faltam
apenas mais três dias de abuso de Bordeaux... acho que eu sobrevivo.
Esse estado alterado me parece perfeito para passear pelo
Louvre. Assim, posso apreciar as obras com mais leveza e terei mais paciência
com a multidão que vou encontrar por lá. Ponho-me a caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário