Sentamos em um restaurante próximo à estação de trem para
comermos, antes de irmos embora. Eles escolheram um restaurante estranho, com
muitas referências norte-americanas penduradas nas paredes. Mas eu queria ser
simpática, não ia encrencar com nada. Minha mania de agradar.
Enquanto só Luisa falava, eu sorria. Ela tinha uma energia
incrível, era vibrante e luminosa. O casalzinho é que parecia desanimado. Não
se tocavam e complementavam aqui e ali alguma coisa que a amiga contava.
Eu estou com vergonha de perguntar, mas acho que bati a
cabeça quando caí. Já passei a mão pelo cabelo várias vezes e não sinto nada
dolorido nem nenhum galo em local nenhum. Mas eu estou bem convencida de que o
Lucas tem me olhado demais. Ao lado da namorada? Ninguém merece.
Assim que as histórias de viagem de Luisa esfriaram, pudemos
falar um pouco das nossas vidas. Eles era de São Paulo, bem distante do meu
Recife e já estavam há mais tempo em Paris, já contavam quatro dias de Cidade
Luz. Apesar disso, só iam embora um dia antes de mim, no sábado à noite. Eu
partiria no domingo à noite.
Eu, obviamente, omiti o motivo de estar ali e sozinha.
Aproveitei a estória que Tulio me deu de presente e coloquei minha família em
repouso em Paris, enquanto eu, a destemida, desbravava a cidade e seus
arredores sozinha.
Eles tinham profissões bem diferentes e na verdade eram da
mesma família. Oi? Ah... Luisa e Amanda eram irmãs, e Amanda e Lucas não eram
um casal. Eram primos.
Huuuummm, muito interessante. Por isso, eles não
demonstravam muita intimidade.
Abri meu melhor sorriso para ele, que retribuiu na mesma
hora. I’m back!
Conversamos bastante, regando a vinho os nossos micos de
viagem. Mal sabiam eles que eu tinha um orangotango para enriquecer o diálogo.
Foi surpreendente a sensação de desprendimento que
experimentei. Não importava nada do que havia acontecido até ali. Não importava
o fora, meu trabalho monótono, meus amigos que achavam que eu estava em lua de
mel. Nada. Estava divertido, eu estava conhecendo pessoas novas, num
restaurante exótico, rindo e me divertindo. Só isso importava. Mal podia me
reconhecer, mas estava gostando muito dessa nova pessoa.
As meninas eram da área de saúde. Luisa era fisioterapeuta,
trabalhava com atletas e Amanda era dentista. Já o Lucas era publicitário e
trabalhava numa grande empresa da área. Todos tínhamos queixas e sucessos para
contar. Consegui me integrar imediatamente. Ponto para mim.
Continuamos a conversa no trem e antes de atendermos as
queixas de um senhor que fez o favor de nos lembrar que não estávamos no Brasil
e portanto devíamos respeitar o sono dos que dormiam no trem, conseguimos
marcar para nos encontrar à noite.
Fiquei meio assustada, afinal, minhas noites já estavam programadas desde a
saída de Jhonny: comer os doces feitos por Tulio, assistindo à TV e fantasiando
com ele. Eu teria que mexer na minha agenda.
Fenomenal. é só o que eu tenho a dizer.
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