Chego ao hotel, mais leve, meio boba, mesmo. A sensação piora
com o cansaço, andei muito o dia inteiro, preciso de um banho, de comida e de
cama.
Minha calma passa quando o recepcionista vem correndo ao meu
encontro, afobado, falando rápido e gesticulando. Meu susto de achar que podia
ser algum recado do Brasil passou à medida que eu consegui compreender algumas
palavras. Eu achei que tinha conseguido entender, quando ele me estendeu um
pedaço de papel manuscrito e minha desconfiança se confirmou quando li “Tulio”
assinado embaixo.
Sorri, agradeci e fui para o elevador acompanhada do olhar
sorridente dele. Não que ele estivesse feliz por mim, era por ele mesmo. Desde
o dia em que cheguei que percebi que eu e aquele recepcionista nos atraíamos pelo
mesmo sexo. Tulio deve ter causado frisson quando esteve aqui para entregar o
bilhete. Enquanto ele gesticulava freneticamente eu entendi “rapaz”, “alto”,
“recado”, “simpático”, “para você”. Não há fluência que se mantenha diante
daquela euforia.
Ainda no elevador, eu abro o bilhete rápido e leio uma, duas,
três vezes. Tulio diz que adorou nossa conversa no trem (eu também, eu também!)
e pergunta se quero sair com ele amanhã, para ele me mostrar um pouco de Paris.
Explodo! Entro correndo no quarto e me jogo na cama, como uma menina de quinze
anos. Reparo que não paro de
sorrir desde que entrei. Imagine se o recepcionista sabe o que está escrito
ali! Ah. A quem eu quero enganar? Claro que ele leu.
Vou inovar mais uma vez. Vou tomar cuidado, mas
vou me permitir. Vou conhecer melhor Tulio e a cidade e ter mais histórias para
contar. Não sei se vamos ficar juntos (por favor, por favor!) mas vai valer a
pena de qualquer jeito, só por poder aproveitar.
Bom, preciso responder, porque ele pediu que eu deixasse a
resposta na recepção do hotel, que ele passaria para pegar quando saísse da boulangerie. Desço correndo e peço ao
meu novo cúmplice (que me já me esperava lá embaixo) um papel e uma caneta e
juntos redigimos a resposta. Ele me ajuda a falar o francês coloquial e não o
da escola do Brasil. Digo que adoraria e confirmo o horário que ele propôs. Meu
novo amigo recebe satisfeito e diz para eu não me preocupar. Ele também ganha
com a minha resposta, afinal, Tulio vai voltar ali mais tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário