Despedimo-nos
com um aperto de mão e eu peguei o caminho do palácio, junto com o grupo de
turistas. Aproveitei para abocanhar meu café da manhã que a esta altura já está
gelado. Venta muito e o dia parece mil vezes mais frio do que quando saí do
hotel. Que falta que o gorro me faz. Depois de sacudir as milhares de migalhas
que se prenderam ao meu cabelo, passei pelos portões do palácio.
É
impossível não viajar no tempo, por aqui. A imensidão do pátio, os grandes
portões, a grandiosidade da construção. Consigo imaginar as carruagens, os
soldados, os nobres, os empregados, as intrigas, os romances, tudo passando na
minha cabeça como uma novela de época.
Uma
das vantagens de viajar no inverno é a
ausência de filas. Todos os meus amigos sempre falaram da dificuldade de
comprar ingressos para as principais atrações por causa das longas filas.
Explicaram-me como comprar tudo na internet, mas minha intuição não me traiu:
estava tudo livre, não há tantos turistas nessa época. Escapei de mais esse
problema, o que eu faria com os ingressos de Jhonny? Hunf. Quantas vezes
imaginei essa visita ao lado dele. Eu só falava nisso, já no avião, enquanto
ele se interessava por qualquer outra coisa, mais que por minha conversa. Na
verdade, eu já conseguia visualizar alguns sinais. No avião, ele parecia distante.
Ele assistia filmes, se preocupava com a comida, conversava com um grupo de
suecos que se sentou na fileira ao lado, mas pouquíssimo comigo. Já havia algo
errado, eu não vira.
Dancei
junto com os nobres no salão dos espelhos, aprendi geografia com os príncipes
na sala de estudos, relaxei com Maria Antonieta na cama minúscula, apreciei
cada tom de mármore incorporado às paredes.
Já
nos jardins, acolhi de novo o frio. Deixei ele me abraçar e alisar os meus
cabelos. Percorri os caminhos retos entre os canteiros de cores sóbrias,
apagadas pelo frio. Parei ao lado da grande fonte e fiquei de frente para o
enorme canal. Permiti-me sentir a dormência nos lábios e no nariz, enquanto pedia
para que essa letargia chegasse até meu coração.
Aqui
e ali eu ouvia os passos de alguns turistas sobre as pedrinhas pelo chão.
Ouvia algumas conversas em línguas diferentes. Ouvia o vento passeando entre os
galhos das árvores, quase sem folhas. E quase podia ouvir meu peito pesado,
quando pensava na imensidão daquela propriedade, tão grande quanto a da minha
solidão.
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