Depois de me despedir da Torre, desço toda a escadaria e
procuro um lugar para almoçar. Seguindo o curso do rio, encontro a Rue Saint
Dominique, movimentada e cheia de opções. De lavanderias à creperias, acho que
é possível encontrar todo tipo de estabelecimento comercial por aqui. Tem um
vai-e-vem frenético pelas calçadas estreitas e eu logo decido por um
restaurante de esquina com paredes de vidro para apreciar a rua.
Não como com tanta calma, hoje eu tenho mais energia e quero
aproveitar mais o dia, quero fazer muitas coisas, aproveito e evito pensar no
encontro de hoje à noite, não quero criar expectativas. Projeto Maturidade em
Paris, em andamento. Mas me permito provar o mousse de chocolate da casa. Afinal,
estou na terra mágica onde qualquer coisa feita para comer é simplesmente uma
delícia. Se eu não andasse tanto durante o dia, certamente já estaria obesa.
Com essa preocupação, me permito andar sem destino certo.
Afinal, parece que qualquer caminho nessa cidade conduz a três opções: A) uma
paisagem linda do Sena, com pontes ou margens de cinema; B) um prédio histórico
com 600 anos de idade e carinha de 20, (comparados aos nossos casarões
históricos de 200 anos, no Brasil, entregues à própria sorte); C) um
restaurante maravilhoso, com comidas de sonhos e vinhos bons e baratos. Paris é
realmente uma cidade para ser feliz. Apesar de tudo.
Passo pelo lindo prédio dos Inválidos. Aprecio os prédios
pelo caminho. Vou até a ponte Alexandre III e me perco na sua opulência. Lembro-me
do clipe da Adele. Ela, ao menos, tem talento para virar ganhadora do Emmy
depois de um pé na bunda. O fora mais rentável da História. Eu, até agora,
estou guardando lembranças. Lembranças da maior loucura que eu já fiz na minha
vida: ficar sozinha em outro país e me permitir me envolver com completos
estranhos. Ou seja: o que algumas pessoas fazem corriqueiramente é o momento
alto da minha existência. Está mesmo na hora de mudar. Quem sabe isso não rende
um livro? Seria bom.
Consigo por alguns momentos pensar na vida no Brasil e me
pergunto como será o encontro de meu pai, ou de outra pessoa da família, com
Jhonny. Essas coisas sempre acontecem quando não deviam. Eu tenho evitado
pensar nisso, mas a verdade é que nesse exato momento, meu pai e Jhonny podem
estar no mesmo estacionamento de um shopping ou no mesmo restaurante. A certeza
de que isso não aconteceu é que meu celular continua mudo. Na hora em que esse
encontro se der, meu pai vai esbravejar sobre o Atlântico.
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