Próximo ao hotel há um pequeno café, onde, ao lado da vitrine
de doces, há grandes cestos com pães lindos. Tulio cumprimenta todos pelo nome
e me sinto mais próxima do Brasil com um calor humano que não estou acostumada
a ver nas bandas de cá. Ele me apresenta como sua amiga brasileira, título que
causa comoção no estabelecimento. Penso em todas as oportunidades que deixei
passar em vez de usar minha nacionalidade para conseguir alguma simpatia em
alguns momentos.
Escolhemos três tipos de pão e seguimos na direção de um
mercado, tão pequeno quanto a padaria, mas rico em variedade. Nunca vi tantos
molhos, pastas, queijos, amêndoas. Tudo lindo, colorido, sofisticado. Tulio não
me deixa pagar nada e diz que é um presente de boas vindas. Aceito ser mimada, é
só por essa noite. Ele também escolhe o vinho e pede pequenas taças emprestadas
ao dono do mercado que as entrega de bom grado.
Saímos de lá sem deixar a conversa morrer nem por um
instante. Conseguimos contornar as dificuldades com a língua e a comunicação
flui bem. Nunca fui boa em orientação e não percebo o caminho até me ver em
frente à Torre iluminada.
- Eu tinha escolhido outro lugar para o nosso piquenique, mas
como você encantou-se com ela durante o dia, achei que gostaria de vê-la à
noite.
Acertou em cheio.
Tudo está ótimo, o vinho é bem diferente de tudo que já
tomei, mas é muito bom. Deixo o álcool agir e começo a relaxar.
Apesar do frio, tem outras pessoas fazendo o mesmo. Alguns
grupinhos aqui e ali sobre a grama.
Conversamos muito. Ouvi histórias fantásticas sobre a
infância dele na Toscana e começo a me perguntar se ele não saiu de algum filme
que eu assisti e não é só fruto da minha imaginação. Eu ouço sobre as refeições
feitas à sombra das árvores e regadas a vinho produzido pela sua família ali
mesmo. Achei que isso só existia em Hollywood. Pelo jeito, não.
Conto sobre a minha infância nas ruas do Recife e junto ao
mar em Maceió. Conto sobre as piscinas naturais, sobre a convivência nem sempre
pacífica com a fauna marinha. Conto sobre o fim de tarde nas areias das praias
e sobre o sabor do coco e da manga, quando colhida na hora.
Conversamos olhando nos olhos, sorrindo, esperando. Não há
disfarces, estamos paquerando. Ele seduz, sorri, toca no meu braço e eu
retribuo. De vez em quando, olho em volta para compor o cenário: Tulio, Paris,
Torre Eiffel, noite, luzes, vinho, queijo, beijo. Beijo bom, longo, quente e
decidido. Cheiro de homem, de sabonete, de limpeza. Aperto seguro de braço
forte ao redor da minha cintura. Desejo, tontura, sussurros em francês e em
inglês. Prazer.
- Sua família também saiu hoje à noite? Ninguém estranhou
você sair sozinha?
- Eu... eu não estou com minha família. Eu vim com meu
namorado. Mas rompemos no dia em que chegamos aqui (dizer que foi ele quem
rompeu comigo é muita informação para esse momento tão perfeito...). Então decidi
ficar e aproveitar a cidade sozinha.
Ao contrário do que eu esperava, ele sorriu com o cantinho da
boca.
- Quer dizer que não há ninguém para reclamar da hora em que
você voltará para o hotel?
- Não.
- Não podia ser mais perfeito.
Eu também acho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário